Edith Piaf era jovem, jovem demais, uma criança até. Seu pai vivia de apresentações circenses, um contorcionista. Depois de sua apresentação, o aplaudiram, e então alguém diz "E ela? O que faz?", enquanto apontava para a pequena garotinha ao canto. Todos olharam. A tensão de saber o que a pobre garota poderia fazer pairava no ar. O pai deu-lhe um beliscão "Vá! Faça algo!". Edith nada sabia fazer. O que faria agora?
Edith Piaf cantou. Pela primeira vez Edith mostrou sua voz. Da pequena criança saia o Hino da França. O Hino. Vozes surgiram gradativamente e se juntaram a canção. Todos juntos cantando.
A cena é grandiosa, comovente.
Existem filmes que possuem cenas magníficas, épicas. E não são poucos filmes, não. Alguns só possuem tais cenas, nada mais. Filmes sem conteúdo, sem desenvolvimento... mas que muitas vezes são aclamados por uma cena são bonita que todo o filme valeu a pena. Esses filmes não valeram a pena! A cena em si, valeu a pena. Valorize-a, enfatize, mas não eleva algo que seria mais um dentre muitos sem aqueles minutos poucos em meio a outros totalmente desperdiçados.
Muitas nos inspiram, muitas se acoplam ao nosso dia-a-dia e até se acoplam a nós mesmos. Estão sempre sendo citadas. Não há alguém que não tenha uma cena épica para contar, seja ela grandiosa para si ou parar a opinião geral. Quem não se emocionou em O Rei Leão? Filmes infantis são recheados de cenas comoventes. Assim como filmes dramáticos o são.
Em Adeus Lenin! uma senhora apoiadora do Partido fica em coma enquanto sua Berlin é totalmente transformada com a Queda do Muro, quando acorda seus filhos têm que esconder a enorme mudança, a saúde da mulher está incrivelmente frágil e ela não aguentaria a verdade. Então, depois de um desenrrolar do filme, eis que a fabulosa e grandiloquente cena acontece: a senhora sai de casa, lá fora depara-se com algo que para nós seria uma comum visão urbana, mas o envolvimento é tão grande que o que realmente chega a quem assiste é uma terrível estranheza ao que a senhora conhecia, o mundo é outro, ocidentalizado... lá está a Estátua da Liberdade.
Poderia também citar o filme de Orson Welles, que nos deu a famosa cena dos espelhos de The Lady from Shanghai, onde toda a verdade do filme revela-se em meio a um jogo de espelhos, onde todos são enganados. Surpreendente e muito bonita.
Claro, não tão surpreendente quanto o final de Beleza Americana, ou melhor, as cenas finais. Eis um filme dignamente tenso. Claro, não pior que Dogville.
Dogville é sem dúvida alguma o mais que poderia citar (cada um tem seu próprio "Top Filmes Tensos", não é mesmo?). "Ela podia voltar a matar todo mundo!", e quem diria, hein? Eu pensei isso. Desejei isto. Admita, você desejou também.
Poderia eu ficar citando cenas épicas, tantas em O Fantasma da Ópera, ou diversos outros filmes. Então, ficaria tão sem sentido quando já está este texto, que mesmo falando de grandiosidade, de tudo, nada tem a mostrar que já não tenha sido dito antes.
(Alguns links, de alguns filmes citados e outros não.)
Beleza Americana Na Natureza Selvagem Adeus Lenin!
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