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quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Impulsividade é a Surpresa da Indignação

O começo é sempre uma mistura de indefinição e insegurança. Começar é tão difícil quanto terminar, ambos de dificuldades gigantescas. Quando se começa, se propõe, se estabelece alguns padrões. Então, por onde começar? Poderia habilmente falar sobre aquilo que fala cotidianamente, poderia dissertar sobre filmes, opinar sobre músicas, livros... Chegou a pensar até em expor um texto pronto, daqueles em que escrevera tempos antes, que já sabia que impacto ou opinião causaria, sem surpresas, surpresas são ruins em sua maioria.
Surpreender-se pode causar-lhe inúmeras reações, a maior parte das reações que foram desencadeadas por surpresas, estas malditas surpresas, eram de indignação.
Indignar-se é extremamente fácil. Pensou em inúmeras possibilidades e exemplos para essa tal indignação, que se apoderava de si.
Chegou a cogitar escrever seu texto em primeira pessoa, descartou a possibilidade rapidamente.
Enquanto pensava, veio-lhe o som da televisão, em meio a tantos canais ruins, alguém escolhera um canal de teor bíblico. “Criminalidade por vir de boas famílias?” o título era alguma derivação desta frase. Neste momento foi levada a crer que o programa queria dizer aos seus telespectadores que o homem é um ser patológico, a criminalidade só afeta lares ruins, e um lar, ah, um bom lar, só não tem vertentes criminais quando tem vínculos com Deus. Deus é um eufemismo para Igreja.
Muitas manifestações de fé lhe causam repulsa momentânea, nunca nenhuma lhe causara uma total aversão. Contudo, houve vez em que sentada, acompanhada de uma amiga, em uma praça, veio para junto dela um homem de descrição normal, sentou a seu lado e disse-lhe: “Bom dia! Poderia falar com vocês um instante?”, responderam prontamente: “Claro!”, o homem, extremamente simpático começou seu questionário: “Vocês são contra ou a favor do casamento homossexual?”, a pergunta já era esperada, não foi surpresa, responderam em uníssono: “A favor”.
Então veio a surpresa: toda a simpatia se esvaiu do rosto daquele que duas palavras atrás era só afeto, olhou as com total desprezo, sem dizer uma palavra sequer, sem anotar o voto em sua prancheta, que só era usada pra anotar votos negativos, levantou-se e saiu, horrorizado.
Horrorizadas e surpresas ficaram elas, sentadas na praça. Vendo o homem se aproximar de um moto-taxista e começar a falar-lhe. Ele não se levantou com repulsa ao conversar com o trabalhador, ao contrário, juntou-se mais, começou a falar-lhe muito, os dois olhavam para trás, para ela, sempre com a pior cara possível.
O “pesquisador” não anotou o voto de outra cidadã que respondeu “sim, sou a favor” em sua pesquisa. Mas não avia nenhum outro moto-taxista por perto para apontar e acusá-la de homossexualdade. O “pesquisador” não anotou o voto do amigo daquelas duas que também respondera “sim, sou a favor”, voltara e pregara-lhe um grande sermão, um grande e contestável sermão, cheio da mais profunda hipocrisia. O “pesquisador” não anotou o voto de qualquer um que tenha votado algo diferente de “Não, quero matar todas as pessoas promíscuas e demoníacas”.
Ao relembrar de toda essa história, que lhe causara indignação, ela pensou em como causaria indignação em alguns, em como seu começo seria indefinido para o que pretendia  abordar, pensou também que ao contar essa história não estaria expondo o que realmente pensava: seus pensamentos eram a mais pura matéria indefinida, quase nada ali era definitivo, suas idéias estavam sempre sujeitas a mudança, conforme sua experiência.
Lembrou também de uma fala, ouvida recentemente, que se escutada por um indivíduo, que andava com a palavra “preconceito” na sua lista de perseguições, seria tido por um autentico preconceituoso. A frase foi algo parecido com “Não gosto de homens se pegando, minha opinião, simples. Não gosto. É feio.”O termo “é feio” não veio na frase como “é contra os princípios da minha religião, veio como uma forma de dizer que não se sentia bem, vendo, não achava bonito, tal qual muitos podem olhar para a tela O Grito e falar “Não gosto. É feio.”, os que acabaram de dizer que não gostam, que viram a tela, não falaram isso sem nunca ter visto, disseram isso porque realmente acharam que O Grito é uma pintura feia, independetemente de entendê-la ou não”.
Parou. Pensou que agora sim, seu texto nunca revelará suas idéias, pensou em como não planejara aquilo para seu começo, lembrou-se de como era impulsiva, lembrou-se do programa de televisão que se chegou aos ouvidos. E por fim, pensou em quão extenso seu texto ficara.

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