Páginas

domingo, 3 de julho de 2011

O Hino, A Estátua, e Outras Cenas Épicas

     Edith Piaf era jovem, jovem demais, uma criança até. Seu pai vivia de apresentações circenses, um contorcionista. Depois de sua apresentação, o aplaudiram, e então alguém diz "E ela? O que faz?", enquanto apontava para a pequena garotinha ao canto. Todos olharam. A tensão de saber o que a pobre garota poderia fazer pairava no ar. O pai deu-lhe um beliscão "Vá! Faça algo!". Edith nada sabia fazer. O que faria agora?
    Edith Piaf cantou. Pela primeira vez Edith mostrou sua voz. Da pequena criança saia o Hino da França. O Hino. Vozes surgiram gradativamente e se juntaram a canção. Todos juntos cantando.
    A cena é grandiosa, comovente.
    Existem filmes que possuem cenas magníficas, épicas. E não são poucos filmes, não. Alguns só possuem tais cenas, nada mais. Filmes sem conteúdo, sem desenvolvimento... mas que muitas vezes são aclamados por uma cena são bonita que todo o filme valeu a pena. Esses filmes não valeram a pena! A cena em si, valeu a pena. Valorize-a, enfatize, mas não eleva algo que seria mais um dentre muitos sem aqueles minutos poucos em meio a outros totalmente desperdiçados.
    Muitas nos inspiram, muitas se acoplam ao nosso dia-a-dia e até se acoplam a nós mesmos. Estão sempre sendo citadas. Não há alguém que não tenha uma cena épica para contar, seja ela grandiosa para si ou parar a opinião geral. Quem não se emocionou em O Rei Leão? Filmes infantis são recheados de cenas comoventes. Assim como filmes dramáticos o são.
    Em Adeus Lenin! uma senhora apoiadora do Partido fica em coma enquanto sua Berlin é totalmente transformada com a Queda do Muro, quando acorda seus filhos têm que esconder a enorme mudança, a saúde da mulher está incrivelmente frágil e ela não aguentaria a verdade. Então, depois de um desenrrolar do filme, eis que a fabulosa e grandiloquente cena acontece: a senhora sai de casa, lá fora depara-se com algo que para nós seria uma comum visão urbana, mas o envolvimento é tão grande que o que realmente chega a quem assiste é uma terrível estranheza ao que a senhora conhecia, o mundo é outro, ocidentalizado... lá está a Estátua da Liberdade.
    Poderia também citar o filme de Orson Welles, que nos deu a famosa cena dos espelhos de The Lady from Shanghai, onde toda a verdade do filme revela-se em meio a um jogo de espelhos, onde todos são enganados. Surpreendente e muito bonita.
    Claro, não tão surpreendente quanto o final de Beleza Americana, ou melhor, as cenas finais. Eis um filme dignamente tenso. Claro, não pior que Dogville.
    Dogville é sem dúvida alguma o mais que poderia citar (cada um tem seu próprio "Top Filmes Tensos", não é mesmo?). "Ela podia voltar a matar todo mundo!", e quem diria, hein? Eu pensei isso. Desejei isto. Admita, você desejou também.
    Poderia eu ficar citando cenas épicas, tantas em O Fantasma da Ópera, ou diversos outros filmes. Então, ficaria tão sem sentido quando já está este texto, que mesmo falando de grandiosidade, de tudo, nada tem a mostrar que já não tenha sido dito antes.

(Alguns links, de alguns filmes citados e outros não.)
          Beleza Americana                  Na Natureza Selvagem              Adeus Lenin!


.

2 comentários:

  1. que legal seu texto, nunca tinha parado pra pensar nisso.. mais realmente tem cenas que marcam nossas vidas, das quaiss nunca esquecemos atores e nem filmes.. e ainda saimos por ai copiando! auiheoia bjss

    @nelumamagalhaes

    ResponderExcluir
  2. Uma das grandes qualidades do cinema, é isso, de transformar o banal em algo único, igual a cena do filme Carrie de 78, uma simples festa de formatura foi transformada em uma das cenas mais marcantes do cinema, ou como você citou Beleza Americana, uma sacola plástica voando nunca foi algo tão poético de se ver.

    ResponderExcluir