Páginas

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nunca Somos Nós Mesmos Quando Há Platéia

""Cada um ali vive intensamente sua vida, lhe dá um peso que equivale à imagem que fazem de si e as suas expectativas sobre os outros. Cada um ali se defronta com a leveza quando se despem disso, e suas vidas se tornam então insuportáveis."


    "Lhes apresento: Milan Kundera!", explosão. 
    Sem nenhuma explosão ou efeito especial um texto tenta fazer uma performance tal qual o filme ou um espetáculo de teatro. Tem seus ensaios, tem seus erros dramáticos, tem seus personagens e temas, artifícios. As diferenças desfavorecem o pobre texto, que depende de uma imaginação fértil para construir a imagem da explosão quando lê, fazendo assim o jogo de efeitos especiais. Entretanto, explosão, como ainda assim um livro pode encantar mais que um filme (e não venha me dizer que isto não ocorre)? 
     Rodeios a parte, e pondo um fim a estes, digo que um texto encanta mais por ter essa subjetividade, esta individualidade que muitos procuram, afinal, tudo parece indicar que só ficamos realmente a sós em nossas mentes. Milan Kundera nos deixa sozinhos. Os temas e toda a maneira com a qual escreve nos colocam no centro das reflexões.  Estamos sós e aí conhecemos nós mesmos e ao mundo.
    Não se trata de um enredo constituído de apenas personagens, lugares, acontecimentos. Os acontecimentos, os seus ínfimos acontecimentos são os que trazem reviravoltas não na "história", os personagens são a própria insegurança e sentimentos de quem lê; os simples acontecimentos ganham um significado que transcende, tanto para o personagem como para o leitor.
    Kundera participou da Comuna de Paris, viveu em um dos maiores momentos de seu país, a Tchecoslováquia (Rep. Tcheca), e trata destes momentos constantemente em sua obra, tal qual do comunismo (depois de ser expulso do Partido, vive lançando inúmeras críticas anti-comunistas). Seus livros são repletos de autoconhecimento e história. 
    São muitas as situações em que não pode-se achar uma ou outra citação ou tema que ele não tenha citado, desde um total desespero na vida ou uma simples comemoração com os amigos... Kundera já mencionou algo importante a respeito. Sobre publicidade, sobre Morte, sobre infância, sobre alma e corpo. 
    Até hoje, foi feita apenas uma adaptação para o cinema de algum de seus livros. A Insustentável Leveza do Ser teve sua adaptação para o cinema, com Juliette Binoche e Daniel Day-Lewis. O filme cumpriu bem sua função, retratou a história, mas nunca nenhum filme, nem contanto com a melhor direção ou melhor atuação, poderia transmitir e tratar de tudo o que o mais aclamado livro de Kundera tratou. Como poderia? Cada Parte tem sua própria vida, ouso dizer. Quando Tereza está numa reflexão acerca de sua alma e corpo, acerca das inúmeras "traições" de Thomas é bastante diferente de A Grande Marcha. 
    E então, com poucas características de Kundera expostas, com as poucas impressões que aqui jazem, só poderia terminar com um efeito especial, explosão, e deixar para trás alguma citação, uma citação que de alguma forma possa fazer com que um leitor pare, e tenha um momento de epifania acerca de palavras que tanto me fizeram pensar.


    "Aquele que deseja continuamente "elevar-se" deve esperar um dia pela vertigem.O que é Vertigem? Medo de cair? Mas por que temos vertigem num mirante cercado por uma balaustrada sólida? Vertigem não é medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio debaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados."


Explosão.


.

Um comentário: