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domingo, 17 de julho de 2011

"Fale alguma coisa sobre fotos, coloque algum sentido nisso"


     Três coisas aconteceram, quase que simultaneamente: primeiramente eu acabara de ver um filme no qual um personagem, fotógrafo, justifica para seu filho o porquê de ser tão apaixonado por sua profissão, em segundo lugar eu estava extremamente sem nenhum tipo de criatividade ou motivação para redigir absolutamente nada, e por fim disseram-me "Fale alguma coisa sobre fotos, o que elas trazem, de bom ou ruim, coloque algum sentido nisso".
    Em relação ao primeiro "acontecimento", que serviu de base para a epifania, no filme o fotógrafo diz que futuramente, todos os garotos vestirão a mesma bermuda, usarão o mesmo tênis, se emocionarão com os mesmos filmes, escutarão as mesmas músicas, pensarão as mesmas coisas do mundo, irão comer o mesmo fast-food. E aí é que se encaixa toda a paixão do fotógrafo, em registrar o que é diferente no mundo, a mais ínfima diferença, é atrás dela que ele corre atrás. Ao procurar por tais diferenças ele acabou na Tailândia, e de lá mostrou a seu filho um mundo totalmente diferente àquele que ele conhecia. Fez com que aquele garoto de 15 anos, tão centrado em seu mundo com preocupações típicas, descobrisse uma nova paixão. O triste? O triste é ter que ir até a Tailândia para encontrar uma cultura diferente, alguma coisa que sobreviva pós globalização, ou quem sabe um pouco de diferença, que relute, respirando por si só, onde todos são tão iguais sem ao menos ter ciência disso.
    A falta de criatividade não é tão comentável, só é lamentável e recorrente.
    Quando li a frase, para dar um sentido a fotografia, logo me vi pensando não no sentido da fotografia, mas no que seria o "sentido". A arte não tem que ter um sentido. Se fotografar é fazer arte, não deve ser necessariamente racional. Pode-se ser artisticamente racional. Ou simplesmente sair fotografando o que quiser, sem se preocupar com o que sairá em seu primeiro rolo de filme, eis a diversão, a arte.
    Ao pensar o que a fotografia trás, ahh, porque pensar? Não é tão óbvio? Pense. Porque você acha aquela foto tão magnífica, e o outro só consegue ver uma imagem extremamente estranha e bizarra, fruto de um extremo nonsense? A foto trás emoções e sentimentos, emoções que fazem o fotógrafo se embrenhar numa guerra africana para ver coisas inesquecíveis. Emoções e sentimentos que fazem com que nos afeiçoemos a pessoa que nunca vimos, que admiremos... que nunca nos esqueçamos.
    Um rosto, uma ação, um fenômeno... o céu, uma cena de filme, tudo que é registrado por uma lente e por um olhar que fotografa, tudo pode ter um sentido dramático e pode sim, se tornar inesquecível. Ver uma cena extremamente indignante, triste, comovente é inesquecível. Mas quem sabe o inesquecível que se procura é um momento tão pequeno onde um garotinho brinca com uma bola, ou uma garota sorri em meio a escombros? A felicidade pode ser inesquecível e registrada, não precisamos atribuir sentido a isso, basta sentir e só tentar compreender.
    Não há um sentido pronto em nada. Nem em imagens que nos trazem sentimentos. Afinal, que razão há em sentimentos?
 



3 comentários:

  1. Que ótimo, quando você fala sobre valorizar cenas simples.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Lindo texto.

    ''A arte não tem que ter um sentido. Se fotografar é fazer arte, não deve ser necessariamente racional.''

    Tenho essa visão sua, arte é imprevisibilidade, tanto que uma das qualidades de um fotografo é conseguir captar à efemeridade da vida.

    ps: A ultima foto é do filme Manhattan, acho que você irá amar

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